IVA pode punir o varejo por investir em tecnologia e empregos. Setor pede ajustes na reforma para crescer com inovação e inclusão social.
Vivemos um momento decisivo para o setor varejista brasileiro. A transformação digital – impulsionada por avanços em inteligência artificial, automação e inovação – está reformulando a maneira como empresas operam e se conectam com seus consumidores.
Mas, enquanto o varejo projeta o futuro, um tema relevante volta ao centro do debate: a reforma tributária e a introdução do IVA – Imposto sobre Valor Agregado. E o impacto dessa mudança vai muito além dos números – ele pode afetar diretamente o emprego e o crescimento do país.
Assim, surge a seguinte indagação: novas tecnologias, novos investimentos e mais tributos?
Durante o Seminário LIDE Varejo, realizado em 24 de junho de 2025, cuja pauta teve como diretrizes “Uma visão dos cenários Globais e Locais em transformação”, “Tecnologia, digital e Inteligencia Artificial e os impactos no varejo do Brasil”, e “Modelos de desenvolvimento, crescimento e expansão do varejo na realidade atual”, líderes do setor discutiram o papel da transformação digital, da inteligência artificial e das novas dinâmicas do consumo. O consenso foi claro: inovar não é mais opcional, é uma exigência para a sobrevivência e a competitividade no mercado.
Por isso, o varejo está intensificando investimentos em CAPEX e OPEX – para a automação ao atendimento personalizado, passando por logística e experiência do cliente. No entanto, sob o novo modelo de IVA, esses investimentos elevam a base de cálculo do imposto, trazendo uma preocupação real: o setor que mais emprega no Brasil será penalizado por investir em eficiência e inovação?
Nessa equação surge mais uma problemática – A ameaça invisível: o impacto sobre o emprego e o desenvolvimento econômico do setor varejista.
Um dos pontos mais críticos da proposta do IVA é a exclusão da folha de pagamento como item gerador de crédito tributário. No setor varejista, onde a mão de obra representa uma parcela significativa dos custos operacionais, isso cria um desincentivo direto à contratação e à qualificação profissional.
Em outras palavras: quanto mais uma empresa investir em pessoas – capacitação, atendimento humanizado, inclusão produtiva – maior será sua carga tributária líquida. Isso é especialmente grave num setor que:
Emprega mais de 10 milhões de brasileiros, direta e indiretamente;
Representa uma das principais portas de entrada para o primeiro emprego;
Atua como motor de inclusão social e mobilidade econômica.
Manter a atual proposta sem ajustes significa desestimular a geração de empregos formais justamente em um momento em que o país precisa combater o desemprego e fomentar o desenvolvimento sustentável.
Dessa forma, uma reforma tributária, precisa compreender a economia real para contribuir com o desenvolvimento econômico e geração de empregos.
Se o objetivo da reforma é modernizar o sistema tributário e impulsionar o crescimento, ela precisa estar conectada à realidade do varejo brasileiro – um setor estratégico não apenas para o consumo, mas para a dinâmica socioeconômica do país.
O risco é claro: uma estrutura de IVA que onera investimentos e penaliza a contratação de pessoas pode gerar o efeito oposto ao desejado, travando a inovação, freando a competitividade e inibindo a geração de empregos.
Ou seja, quanto mais o setor investir em pessoas – capacitação, atendimento, inovação com base no capital humano – menor a compensação tributária. Isso é, no mínimo, contraditório com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico e a geração de empregos.
O varejo quer – e precisa – participar do debate
Não se trata de rejeitar a reforma, mas de ajustá-la com base em diálogo técnico e responsabilidade social. O varejo brasileiro não pode ser visto apenas como contribuinte, mas como parceiro estratégico na construção de um país mais próspero, justo e moderno.
Uma reforma tributária realmente eficaz precisa olhar para o futuro – mas sem esquecer quem sustenta o presente: as empresas que geram empregos, pagam salários e mantêm a economia em movimento todos os dias.
Se queremos um país mais justo e moderno, precisamos de uma reforma tributária que reconheça as especificidades dos setores que mais empregam e que mais estão em contato com o consumidor final. O varejo não pode ser penalizado por investir em transformação, em atendimento de qualidade e em tecnologia.
Portanto, é fundamental ampliar o debate, garantir segurança jurídica e ajustar o modelo proposto para que não se transforme em mais um entrave ao desenvolvimento. A inovação no varejo é uma conquista que não pode ser ofuscada por uma má calibragem na reforma tributária.
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