O ano de 2026 será marcado como um período de adaptação e testes operacionais do novo sistema tributário brasileiro. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (30) pelo secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, durante um evento do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).
Segundo ele, não haverá arrecadação efetiva dos novos tributos nesse período, o que representa um marco importante na transição do modelo atual para o futuro sistema baseado no IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e na CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).
O que muda em 2026?
BS e CBS: foco será em obrigações acessórias
Segundo Appy, o objetivo de 2026 não será arrecadar, mas treinar os contribuintes e testar a estrutura do novo sistema tributário. A ideia é que os documentos fiscais emitidos passem a discriminar os valores correspondentes ao IBS e à CBS, mesmo que não haja cobrança efetiva dos tributos.
“Muito provavelmente, em algum momento de 2026, será exigido que todos os documentos fiscais passem a discriminar a base de cálculo, qual é o IBS e qual a CBS, sem que seja cobrado”, explicou o secretário.
Essa medida permitirá que empresas, contadores e a administração pública simulem o funcionamento do novo sistema, garantindo maior precisão na transição definitiva, prevista para 2027.
Appy também anunciou que 2026 será o ano de testes com o sistema de split payment, uma inovação do modelo tributário que prevê o recolhimento automático do tributo na fonte — ou seja, o valor do imposto será diretamente transferido ao Fisco no momento do pagamento da transação, reduzindo a possibilidade de sonegação.
Durante o ano de teste, o split payment também não terá efeito arrecadatório, mas será uma oportunidade para validar o funcionamento do sistema tecnológico e jurídico.
Por que não haverá arrecadação?
Appy reforçou que a escolha por não iniciar a cobrança dos tributos em 2026 se dá por precaução e respeito ao processo de transição. O ano servirá como uma espécie de ambiente de simulação real, onde será possível identificar erros, gargalos e dúvidas operacionais, sem que os contribuintes sejam prejudicados.
“A chance de o IBS e a CBS serem utilizados com fins arrecadatórios em 2026 é zero. A arrecadação será somente a partir de 2027”, afirmou.
Reforma busca reduzir litígios e simplificar o sistema
Menos disputas, mais previsibilidade
Atualmente, o sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos e litigiosos do mundo, com milhares de processos administrativos e judiciais envolvendo interpretações divergentes sobre créditos, alíquotas e regimes especiais.
Um dos principais objetivos da reforma é reduzir o nível de litígios, tornando o modelo mais claro e baseado em regras unificadas de apuração e crédito.
“Hoje, o maior nível de litígio envolvendo o ICMS está relacionado ao direito ao crédito. Com o novo modelo, tudo dá direito ao crédito, com exceção apenas do que é de uso e consumo pessoal”, afirmou Appy.
Projeto do Imposto Seletivo será enviado ao Congresso
Além da fase de testes dos tributos principais, Appy também anunciou que os projetos de lei que regulamentarão o Imposto Seletivo (IS) — conhecido como “imposto do pecado” — e os fundos de compensação da reforma serão entregues ao Congresso ainda no segundo semestre de 2025.
Imposto Seletivo: o que é?
O Imposto Seletivo (IS) incidirá sobre produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como:
- Bebidas alcoólicas;
- Cigarros;
- Produtos com alto teor de açúcar;
- Combustíveis fósseis.
O objetivo é desestimular o consumo desses produtos e, ao mesmo tempo, compensar a perda de arrecadação com a extinção de tributos anteriores, como o IPI.
Fundos de desenvolvimento e compensação
O secretário também informou que os projetos de lei que regulamentam a transferência de recursos para o Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) e o Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais (FCBF) já estão em estágio avançado.
Esses fundos serão essenciais para:
- Equilibrar os impactos da reforma entre estados e municípios;
- Compensar perdas de receitas locais;
- Promover desenvolvimento regional equilibrado.
Quem está desenvolvendo os sistemas da reforma?
Segundo Appy, a construção dos sistemas que viabilizarão o novo modelo tributário está sendo feita de forma conjunta pela Receita Federal, estados e municípios. A ideia é que haja plataformas integradas para os contribuintes.
Duas frentes de atuação:
- Sistema de apuração com regras comuns, mas separadas para o IBS e a CBS;
- Interface única, simplificada e amigável para as empresas declararem os tributos, evitando duplicidade de informações.
A expectativa é que a tecnologia esteja pronta em 2026, permitindo que os contribuintes já se adaptem à nova forma de registrar e processar os tributos.
Expectativa de aumento temporário de litígios
Appy reconhece que a implementação do novo sistema poderá, inicialmente, gerar dúvidas e contestações jurídicas, uma vez que se trata de uma transformação estrutural do modelo atual.
“É um sistema totalmente novo, mas acredito que, em um prazo bastante curto, o nível de litígios irá se estabilizar em um nível bem mais baixo do que temos hoje”, previu o secretário.
- Tributação no destino (e não na origem);
- Crédito amplo para empresas;
- Uniformidade de regras entre os entes federativos.
O que esperar para 2027?
A partir de 2027, o novo sistema passará a funcionar efetivamente, com a arrecadação do IBS, CBS e do Imposto Seletivo. Será a etapa em que os modelos testados e calibrados em 2026 passarão a gerar receita real para os cofres públicos.
Cronograma até 2033:
- 2026: ano de testes, sem cobrança;
- 2027: início da arrecadação gradual;
- 2029 a 2033: fase de transição completa do sistema antigo para o novo.
Considerações finais
O anúncio de que 2026 será um ano de teste sem arrecadação consolida a estratégia do governo de implementar a reforma tributária com segurança, previsibilidade e diálogo com os contribuintes. A reforma, considerada uma das mais complexas da história brasileira, entra agora na fase crucial de operacionalização.
Com um ano inteiro de simulações, treinamentos e ajustes, espera-se que o novo modelo chegue a 2027 com plena capacidade de arrecadação, menor judicialização e maior eficiência para o setor público e para os empresários.