Pensar na aposentadoria ainda não é realidade para a maioria da população, mas o planejamento pode trazer segurança financeira na velhice
A aposentadoria parece ser um plano distante para muitos brasileiros – seja pelo baixo número de contribuintes da Previdência Social, ou pelo baixo número de investidores que fazem reserva com este objetivo.
Das 175 milhões de pessoas em idade de trabalhar, cerca de 74 milhões são contribuintes da Previdência Social, segundo dados mais recentes do IBGE. Essa baixa proporção eleva o déficit da Previdência que, no acumulado do primeiro semestre de 2025, chegou a R$ 203,7 bilhões.
Mas essa ausência de contribuintes não reflete necessariamente uma preferência pela alternativa privada. Uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) aponta que 18% dos entrevistados já começaram a formar uma reserva financeira com esse objetivo, e outras 55% afirmam ter intenção de poupar para o sustento na aposentadoria, mas ainda não deram o primeiro passo.
Por que isso é um problema?
Para o economista Fabio Giambiagi, pesquisador associado da FGV/IBRE, demorar a planejar a aposentadoria faz com que as pessoas tenham um tempo menor de acumulação para depois usufruir do benefício. Ou seja, quanto maior o tempo de contribuição – seja na Previdência Social ou na privada – menor será o valor investido todos os meses.
Em geral, se uma pessoa quer se aposentar aos 65 anos e usufruir por 20 anos de uma renda de R$ 8.000, por exemplo, ela terá que investir cerca de R$ 4,2 mil a partir dos 40 anos – considerando juros reais de 4% ao longo do período. O valor cai para R$ 1,8 mil se o investimento começar aos 20 anos. Os cálculos foram feitos com base na ferramenta de simulação Longevprev, desenvolvida por Giambiagi e Arlete Nese.Para o trabalhador formal, é preciso pensar que a aposentadoria representa uma depreciação de renda referente aos benefícios como vale-alimentação, vale-refeição, seguro de vida, seguro de saúde, entre outros. Para o autônomo, é preciso ter clareza que a contribuição junto à Previdência pública ou privada deve ter como base a renda que ele precisa garantir para ter um estilo de vida semelhante ao de quanto estava na ativa, analisa Antônio Camano, professor na FIA.
Déficit no INSS
Giambiagi destaca que a contribuição junto à Previdência Social é a única que vai garantir renda vitalícia para o cidadão, enquanto nos planos privados será preciso “acertar a conta” do quanto irá viver.
“Dizer que quem contribui para o INSS não vai se aposentar é uma fala quase criminosa, porque incute nas pessoas a ideia de que seria recomendável fugir desta alternativa, quando ela permite uma aposentadoria vitalícia para a população”, afirma.
Segundo o economista, a previdência pública está deficitária e vai continuar assim, o que não quer dizer que haja um colapso, porque o Tesouro Nacional compensa a falta de recursos. “Outro ponto é que os esquemas alternativos ao INSS têm lastro em títulos públicos. Se houver uma situação limite, os detentores de títulos também serão penalizados”, avalia.
“Eu acredito que o INSS nunca irá quebrar, mas ele precisa de ajustes, de reformas sérias, como aumentar a base de contribuintes, combater fraudes, diminuir a disparidade entre os regimes envolvendo funcionários públicos, privados, militares. É preciso melhorar essa sustentabilidade para que as pessoas não fiquem preocupadas se vai faltar dinheiro no INSS”, afirma Camano.
Os dados da Anbima apontam que quase metade (49%) das pessoas que ainda não se aposentaram esperam ter uma alternativa à previdência pública no futuro. Em contrapartida, 88% das pessoas já aposentadas dependem dos recursos públicos como maior parte do sustento.
Previdência privada tem captação negativa
Ao mesmo tempo, o mercado de previdência complementar aberta registrou uma captação líquida negativa de R$ 3,1 bilhões em junho de 2025, segundo levantamento da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), que representa as empresas que operam no setor. O resultado representa uma queda de 170,8% em relação a junho de 2024, ou seja, R$ 7,5 bilhões a menos.
“A população brasileira está envelhecendo, o que nos coloca diante de dois fatos preocupantes: a baixa adesão aos investimentos com foco na aposentadoria e o aumento do número de pessoas que sequer pensam em poupar para essa fase da vida. Tornar o debate sobre previdência mais acessível, com informações claras e programas de conscientização sobre dinheiro desde cedo, é essencial para promover uma cultura de planejamento financeiro no país”, afirma Marcelo Billi, superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima.