Galipolo afirmou que, do ponto de vista do BC, a trajetória da inflação está em linha com o imaginado pela autarquia em seu “plano de voo”
O presidente do Banco Central, Gabriel Galipolo, afirmou nesta quinta-feira, 27, que o cenário econômico está andando na direção que a entidade deseja, mas em um ritmo muito lento. A declaração foi dada em evento organizado pela Itaú Asset Management, em São Paulo.
“Os dados novos continuam apontando nessa direção que a gente comentou de que a política monetária está sim funcionando, mas funcionando de uma maneira bastante lenta, em uma economia que vem apresentando uma resiliência para o nível de restrição que a gente colocou na política monetária”, disse.
No evento, o banqueiro central não deu pistas de quando a autarquia deve começar uma redução na taxa de juros, atualmente em 15% ao ano, e reforçou que a entidade não vai “se emocionar” com dados específicos e que nenhum indicador do período recente promoveu qualquer mudança de direção.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária vai acontecer entre os dias 9 a 10 de dezembro e deve manter a taxa básica de juros no nível atual.
Números do IPCA-15 de novembro apontaram crescimento de 0,20%, menor taxa para o mês desde 2019. A taxa acumulada em 12 meses passou de 4,94% em outubro para 4,50% em novembro.
Credibilidade
O presidente do Banco Central afirmou também que a credibilidade da autarquia não é resultado do trabalho de uma só pessoa, mas sim de uma construção coletiva. “Eu acho que essa questão da credibilidade e de você construir a questão da credibilidade da instituição não é minha, é da instituição. Ela nunca é resultado de uma personalidade ou de uma pessoa, ela é um processo de construção coletiva e ao longo do tempo”, disse.
O banqueiro central ponderou que nunca é simples ser o responsável pela autoridade monetária no Brasil, mas que não pode se queixar. “Eu me beneficio muito do trabalho que foi construído ao longo do tempo na instituição e dos técnicos da instituição. São técnicos muito bem capacitados e que sabem o que fazer.”
Economia resiliente
Galipolo afirmou também que a autarquia tem observado surpresas na correlação das variáveis macroeconômicas no Brasil, além de uma certa resiliência. “Se fôssemos perguntar para a maior parte das pessoas, especialmente para quem não é do Brasil, com uma taxa de juros nominal de 15%, com uma taxa de juros real alguma coisa entre 9% e 10%, você não imaginaria que o desemprego seguiria caindo como caiu e que iríamos bater o nível mais baixo”, disse.
Para Galipolo, esse “ruído” nas correlações macroeconômicas responde mais a uma situação estrutural do que conjuntural. “Não é de hoje que o Brasil tem as taxas de juros relativamente mais altas quando comparado com os seus pares, acho que o Banco Central deixou claro e vai continuar deixando claro que o fato de você ter uma condição estrutural que demanda você dar uma dose maior do remédio para fazer efeito.”
Apesar desse comportamento de algumas variáveis, Galipolo afirmou que, do ponto de vista do BC, a trajetória da inflação está em linha com o imaginado pela autarquia em seu “plano de voo”.
Com informações de Estadão Conteúdo e Reuters

