Banqueiro também defende ‘empurrar’ parte dos beneficiários do Bolsa Família para o mercado de trabalho
O Chairman e Senior Partner do BTG Pactual, André Esteves, avalia que resolver parte dos problemas fiscais do Brasil, na verdade, é uma tarefa relativamente ‘óbvia’. Esteves esteve presente no Global Investors’ Symposium São Paulo 2025, evento do Milken Institute que ocorre em São Paulo nesta segunda-feira, 10.
O banqueiro, após questionado, também considerou que o patamar atual de juros ‘está alto demais’ e que o Brasil ‘não merece’ uma Selic a 15%.
“Nós vivemos uma coisa um pouco idiossincrática. Não existe uma perfeita e otimizada coordenação entre a política fiscal e política monetária. No fundo, eu queria ver a fiscal mais apertada e a monetária mais frouxa”, disse.
Segundo Esteves, está praticamente certo que os juros comecem a cair no início de 2026, e então a discussão do mercado é centrada em até onde irá o ciclo de flexibilização.
Nesse sentido, avalia que um ajuste fiscal na casa de 2% do PIB seria necessário, uma medida na qual ‘não vê nenhuma dificuldade’.
“Estamos com desemprego zero, o que é uma benesse, e ainda assim temos uma política de salário mínimo com reajuste real, que é algo questionável. Tem coisas óbvias que precisam ser feitas”, defende.
O banqueiro ainda tocou em outros pontos relativos à proteção social. Apesar de se considerar um defensor do Bolsa Família desde a sua concepção, Esteves acena para cortes no programa, ressaltando que a ‘rede de proteção social do Brasil ficou maior do que a da França e da Noruega’.
“Precisamos empurrar essa turma para o mercado de trabalho. É isso que vai definir se os juros vão ser de 6% ou 7% ou se vão ser de 10% [no fim do ciclo de cortes].”
Menos capital dos EUA
Sobre o cenário global, Esteves pontua que a situação nos EUA tem ditado o comportamento do capital globalmente, dado que ao fim de 2024 se viu um excepcionalismo americano, mas o cenário geopolítico – com forte influência do tarifaço de Trump – derrubou o panorama de multilateralismo diplomático e comercial.
Assim, investidores institucionais e grandes players passaram a alocar em outras geografias.
“Desde o liberation day tivemos uma diversificação de portfólios a nível global. Aquela hiperconcentração nos EUA e no dólar foi algo que caiu ao longo deste ano.”
‘IA está gastando quase uma Covid por ano’
Sobre os investimentos massivos em Inteligência Artificial (IA), o banqueiro se mostrou relativamente cético, criticando o volume exagerado de aportes no segmento.
Na sua avaliação, os US$ 350 bilhões de Capex em IA no acumulado de 2025 se aproximam dos US$ 400 bilhões que o governo americano gastou para conter a crise do Covid-19 – incluindo auxílios e estímulos.
“Por uma lado é algo promissor, mas ainda não temos certeza do business model“, conclui André Esteves.
Fonte: Isto é Dinheiro

