Na visão de parlamentares, figuras ligadas ao atual governo têm sido poupadas
A CPI do INSS se reúne nesta quinta-feira para ouvir seus primeiros depoimentos, equanto governo e oposição ainda afinam suas estratégias de atuação. De um lado, a oposição tentará explorar possíveis conflitos de interesse da investigação conduzida pela Polícia Federal, que, na visão de parlamentares, pode ter poupado pessoas ligadas ao atual governo. Do outro, a base aliada do Palácio do Planalto faz uma ofensiva para ter maioria no colegiado para evitar novas derrotas, como a sofrida na disputa pelo comando do grupo.
Um dos depoimentos previstos nesta quinta-feira é o do delegado da Polícia Federal Bruno Oliveira Pereira Bergamaschi, responsável pela Operação Sem Desconto. O depoimento dele será sigiloso. Opositores pretendem questioná-lo sobre um contrato firmado pelo escritório do advogado Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), entidade investigada por fraudes no INSS. O ministro da Justiça nega conflito e que tenha ocorrido interferência do escritório do filho na pasta que comanda.
Em outra frente, a oposição também deve insistir na convocação de Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Frei Chico, contudo, não consta entre os investigados.
Na segunda-feira, um acordo costurado entre governistas e oposicionistas deixou de fora a convocação de Frei Chico. Membros da oposição, como o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), negam que houve um pacto para blindar o irmão de Lula. Mas, na prática, prevaleceu o entendimento de que seriam convocados apenas presidentes das entidades investigadas — o que automaticamente retirou da lista o dirigente sindical, que ocupa a vice-presidência do Sindnapi.
Além desses embates, a oposição colocou em pauta uma série de requerimentos para ampliar o acesso a dados relacionados às investigações. Entre eles estão relatórios internos da CGU, peças da AGU sobre estratégias de ressarcimento, inquéritos da PF e informações da Dataprev sobre a segurança do portal Meu INSS.
A oposição tenta também mapear ligações políticas. A pauta inclui pedidos de registros de entrada e saída para identificar a circulação de dirigentes de entidades investigadas e personagens do caso em gabinetes do Senado e da Câmara, no Ministério da Previdência e no próprio INSS. Entre os alvos, estão solicitações para rastrear as visitas de Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, e de outros nomes associados ao esquema. A ideia é traçar cronologias de encontros e canais de influência, abrindo uma trilha de relacionamentos que possa embasar novas oitivas.Enquanto isso, para tentar evitar novas derrotas, o governo também se mobilizou nos últimos dias para trocar integrantes da CPI. Senadores como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL) deixaram o colegiado, e aliados do Planalto trabalham para garantir ao menos 18 votos fiéis à base. A avaliação entre governistas é de que parte das dificuldades até agora ocorreu porque a oposição conseguiu surpreender com a inclusão de requerimentos em sessões que seriam, em tese, apenas para ouvir depoimentos.
Fonte: InfoMoney