A decisão do Banco Central (BC) pela manutenção da taxa básica de juros da economia em 15% ao ano não foi uma surpresa para o mercado, pois nos comunicados mais recentes o Comitê de Política Monetário (Copom), indicava que assim seria no caso de manutenção do cenário de economia aquecida, mercado de trabalho pressionado e inflação persistente.
Mas o tom mais “hawkish” do comunicado que acompanhou a decisão dessa quarta-feira, 17, ou mais “duro” no jargão dos economistas, foi o que chamou a atenção dos analistas. “O tom do texto seguiu indicando poucas chances de cortes de juros no curto prazo”, aponta Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg.
“Além de repetir que a Selic seguirá no patamar mais contracionista por um tempo prolongado, o Copom, desta vez, fez questão de falar que vai retomar o ciclo de alta se julgar necessário”, diz Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
Lago reforça outro ponto do comunicado, que diz ver como um tom mais duro, “até um pouco mais do que veio em julho”. “O ponto que me chamou a atenção foi essa menção explícita às tarifas comerciais dos EUA contra o Brasil. Isso não tinha sido feito no comunicado, foi algo novo, isso mostra que ele está preocupado não apenas com a inflação interna, mas o que esse choque externo pode vir a pressionar o câmbio”,
Sobre a inflação, apesar da leve melhora nas expectativas para 2025, Gabriel Lago acredita que o cenário mais instável visto pelo Copom não só deixou o comunicado mais duro, mas “deixou claro que o comitê não vai reduzir, e, possivelmente, na próxima reunião, também não vai reduzir”.
A questão tarifária também foi o ponto de atenção para a Helena Veronesa, economista-chefe da B.Sode Investimentos. “O comunicado que acompanhou a decisão trouxe algumas mudanças em relação ao anterior, dentre as quais se destacam, o ambiente internacional ainda incerto por conta de questões geopolíticas e econômicas nos EUA, gerando volatilidade no preço dos ativos, e o efeito das tarifas na economia brasileira, o que, junto com a política fiscal, aumenta as incertezas”.
Para o mercado, diz Natalie Victal, economista chefe da SulAmérica Investimentos, trata-se de um comunicado duro, sem concessões, e que dificulta uma mudança rápida de tom. “No conjunto, a decisão veio na cauda mais dura do espectro de possibilidades: manteve a projeção de inflação em 3,4% apesar da melhora do câmbio, não suavizou a avaliação do cenário e reforçou o risco fiscal como motivo de cautela. Dada a comunicação de hoje, flexibilizações em 2025 só ocorreriam diante de melhora relevante de cenário”.
Fonte: Isto é Dinheiro