sexta-feira, julho 11, 2025
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Medida de Trump se assemelha às sanções contra Cuba, Rússia e Irã, diz economista

Em entrevista ao PlatôBR, especialista em negociações internacionais diz que a decisão dos Estados Unidos de tarifar as exportações brasileiras em 50% guarda paralelo com atos punitivos dos americanos em relação a outros países

A posição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação ao Brasil se assemelha mais a uma sanção, como a adotada contra Cuba, Rússia ou Irã, querendo mudar os regimes desses países, do que uma proteção comercial. Em entrevista ao PlatôBR, o professor de geoeconomia Victor do Prado, da universidade SciencesPo de Paris e membro do conselho internacional do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), diz que a carta enviada ao presidente Lula é “inadmissível em relações internacionais” e não tem base no direito interno americano. Ainda assim, ele acredita que uma retaliação brasileira pode ser um problema. Defensor do diálogo e da diplomacia, Prado enfatiza que o Brasil precisa de uma estratégia. A seguir os principais trechos da conversa.

O teor da carta do presidente Donald Trump para o presidente Lula surpreendeu?
Não me surpreendeu o estilo primário. O conteúdo é muito complicado. Inadmissível em relações internacionais. Nada daquilo tem base nos acordos internacionais. Me pergunto se tem qualquer base no direito interno americano. Quando Trump justificava as tarifas com aquela “formulinha” apresentada no dia 2 de abril, e que ninguém comprou, tentou-se algo que justificasse as alíquotas para cada país baseada no déficit dos EUA e outras tarifas alegando atentado à segurança nacional dos EUA. Aqui não há nada disso. É simplesmente: eu não gosto do que vocês estão fazendo com o Bolsonaro e não gosto do Supremo.

Uma interferência em assuntos internos?
É uma clara interferência em assuntos internos do Brasil. E falo isso sem entrar no mérito de gostar ou não do Bolsonaro e do Supremo. Mas que é ingerência é. E é utilizar um instrumento comercial para atingir fins que não são de relações internacionais. Isso se assemelha mais a uma sanção, como adotada contra Cuba, Rússia ou Irã, querendo mudar o regime. O que Trump está fazendo é adotar uma espécie de sanção. Vamos ver se será realizada.

Na sua avaliação, houve falha do governo na aproximação com os Estados Unidos?
Não tenho base para dizer se houve ou não erro de aproximação. Na diplomacia, muitas vezes, esse tipo de aproximação é feito discretamente. Mas é verdade que o Brasil deu muitos sinais de aproximação da Rússia e da China.

Isso justifica a medida adotada contra o Brasil?
Claramente não agradou o presidente Trump, que fez uma declaração nas redes sociais dizendo que os países que se alinhassem com o BRICs teriam 10% a mais de tarifa. Mas é curioso. A China acabou fazendo acordo com os EUA.

Como o Brasil não vai ter aproximação com o seu maior parceiro comercial, no caso a China?
Como você não combina a estratégia?

Qual é o caminho, agora?
O caminho é conversar. Retaliar, como estão dizendo, tenho dúvidas que funcione. O Trump está sendo mais maldoso com o Brasil do que foi com a China e com a Índia. Tem algo estranho aí. E o Brasil tem que se perguntar por que.

Pela atuação da família Bolsonaro?
Os Bolsonaros ou, talvez, a falta de um telefonema do presidente Lula para o presidente Trump. Houve isso? Sim, os Bolsonaro fizeram a lição de casa deles. O governo do Lula fez a lição de casa? Foi lá, fez um agradinho? Tudo isso tem consequências. É preciso medir o tamanho da vara com a qual se cutuca a onça.

O Brasil retaliar será um problema?
Pode ser se não for bem pensada. Tem que ter uma estratégia. Precisa ter certeza da reação dos Estados Unidos. E o Brasil tem como voltar atrás depois? Esse é o momento de reflexão, pensar no que fazer e conversar.

A China retaliou, os Estados Unidos aumentaram a aposta, a China respondeu e, depois, sentaram para conversar. Esse é um caminho para o Brasil?
O Brasil não tem esse poderio todo e, sobretudo, o Brasil não tem uma estratégia pelo que vejo. O Brasil só reage. Pode ser que tenha um cenário, mas (a decisão) pegou a turma de surpresa.

Mas as negociações se encaminhavam para chancelar a tese de que tarifas adicionais não eram aplicáveis ao Brasil, já que a balança comercial é superavitária para os Estados Unidos…
Confiou demais e ignorou os Bolsonaros. Essas coisas são assim. Deve (Eduardo Bolsonaro) ter dado presentinho, uma informação. O Trump funciona nessas bases de afagos de todo tipo.

Há espaço para refazer a relação?
Sempre há espaço. Inclusive, no momento em que já se adotou as tarifas.

Leia mais em PlatôBR.

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