Impactos setoriais em áreas que dependem mais dos EUA serão monitorados, disse Guilherme Mello no Fórum JOTA
A maior preocupação em relação ao tarifaço de Donald Trump, que impôs uma tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, não é o efeito macroeconômico, mas os impactos setoriais, disse Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
“Nossa preocupação não é com o impacto no crescimento, no emprego ou na inflação, dado que a relação comercial entre Brasil e EUA não é de dependência”, afirmou Mello nesta sexta-feira (8/8) durante o Fórum JOTA Agenda Econômica 2025.
“É uma relação importante, que representa 12% das exportações, mas não tão grande quanto era no passado. A maior preocupação é setorial, com alguns setores específicos que têm alta dependência do seu faturamento do mercado americano”, disse o secretário.
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Essa e outras perspectivas para a economia foram discutidas na primeira edição do Fórum JOTA em São Paulo, com patrocínio da Amazon e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e apoio do Jusbrasil. O encontro teve participação de importantes nomes das instituições financeiras e do governo, promovendo um diálogo entre os setores público e privado.
Além de Mello, estiveram presentes Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do Banco Central; Gustavo Guimarães, secretário-executivo do Ministério do Planejamento; e Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais.
Segundo o secretário da Fazenda, o governo Lula vai atender os setores mais afetados, especialmente com o oferecimento de crédito e, no caso dos alimentos, com a colocação dos produtos no mercado interno.
“O conjunto de medidas que estamos apresentando são voltados para mitigar os impactos nesses setores, para os empresários e também para os trabalhadores”, disse Mello, que destacou sua visão de que o tarifaço de Trump é “muito particular por ter uma motivação eminentemente política”.
“Isso dificulta muito a negociação. Não podemos esquecer que temos agentes dentro do Brasil trabalhando para dificultar a negociação. Então essa é uma tarifação muito sui generis.”
Taxa de juros
Mello falou também sobre a taxa de juros, dizendo que “não há dúvidas” de que “ela está elevada e em um campo contracionista”.
“A questão é qual o custo-benefício da taxa do ponto de vista da atividade, emprego e inflação?”, questionou o secretário. “Existem visões diferentes sobre isso. Existem pessoas dentro do mercado que acreditam que a taxa de juros tem que começar a cair já este ano.”
Mello afirmou que os impactos da política contracionista do BC já começam a ser percebidos. “Nós mantemos o cenário de que o crescimento deve ser de 2,5% do PIB, com um mercado de trabalho ainda dinâmico, embora menos aquecido.”
“Agora resta saber como o Banco Central vai reagir diante desse conjunto que ele tem daqui até o final do ano”, pontuou Mello.
Mais cedo, Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do BC, havia afirmado no evento que tem “total confiança” na potência da política monetária do órgão.
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Questionado se considera a meta atual de inflação de 3% ideal para uma economia como o Brasil, Mello afirmou que essa meta não foi um erro, mas é uma escolha que vem de gestões anteriores a partir do entendimento de que o Brasil tem condições de trazer a inflação mais para baixo e de que isso ajudaria no processo de desindexação da economia.
“Em minha visão, o processo de desindexação é muito complexo porque envolve um certo conflito social”, disse o secretário da Fazenda, que avaliou que o tema é um dos mais importantes para se avaliar o perfil da inflação brasileira.
“É muito legal quando todo mundo fala que precisa desindexar a economia. Mas se você fala ‘então vamos começar a desindexar pelo seu rendimento’, a resposta é ‘ah, o meu eu não quero, começa pelo do outro’”, afirmou Mello. “Todo mundo quer desindexar o rendimento do outro.”
“Se você perguntar para o empresário, ele vai falar ‘desindexa o salário’. Se perguntar para o trabalhador, ele vai falar ‘desindexa os títulos da dívida’, porque seu rendimento não depende tanto disso. O banqueiro vai querer desindexar os salários e os contratos dos empresários.”
Questionado sobre o que vê de tema central para a agenda de 2027 em diante, Mello afirmou que a “agenda que foi construída para 2022 tem se concretizado e gerado frutos” e que os próximos passos são a aprovação da reforma da tributação sobre a renda e o crescimento da centralidade do tema da transformação ecológica.
Fonte: JOTA