sexta-feira, agosto 1, 2025
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Tarifaço reforça relação do Brasil com Brics, diz Amorim ao FT

Em entrevista ao jornal britânico no domingo (27), assessor de Lula disse que interferências como as de Trump não foram vistas “nem na época colonial”

Em resposta à taxação de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelos Estados Unidos no começo do mês, o país irá redobrar o compromisso com os Brics. É o que afirmou Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para Assuntos Internacionais, no último domingo (27).

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Amorim afirmou que o Brasil quer “ter relações diversificadas, e não depender de nenhum país”, negando qualquer caráter ideológico do Brics. Além do bloco, o assessor comunicou que o governo pretende fortalecer laços com países da Europa, América do Sul e Ásia.

Políticas “antiamericanas”

O imbróglio começou no início de junho, quando Trump ameaçou aplicar uma tarifa adicional de 10% a “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics”. Em entrevista à CNN na época, Amorim negou que a declaração tenha lhe causado impacto e, ao minimizar o caso, disse: “A frase que me veio à cabeça – americana – foi ‘who’s afraid of the big bad wolf?’ [‘Quem tem medo do lobo mau?’, em tradução livre]”.

O que veio em seguida foi uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras, anunciada por Trump em 9 de julho por meio de uma carta endereçada a Lula. A medida está prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto.

Segundo o documento, o motivo da taxação é o tratamento da justiça brasileira a Jair Bolsonaro. Para o republicano, as acusações feitas ao ex-presidente são parte de uma “caça às bruxas” contra o aliado. Para Amorim, Trump está tentando agir politicamente “em favor do amigo”, uma interferência que não foi vista “nem na época colonial”.

“Acho que nem mesmo a União Soviética teria feito algo assim”, acrescentou ao Financial Times.

Nem amigos, nem interesses; só desejos

O assessor de Lula ainda afirmou que o último ano do governo deve ter um foco maior nas relações com a América do Sul. A região comercializa, internamente, menos do que qualquer outra parte do mundo — realidade que o presidente busca inverter, diz Amorim. Ele também afirmou que o Canadá estava interessado em negociar um acordo de livre comércio com o Brasil.

Finalizou sua fala ao jornal britânico afirmando que o caso de Trump era incomum, porque não tinha “nem amigos nem interesses, apenas desejos”. A abordagem do presidente americano é “uma ilustração de poder absoluto”, disse.

Consequências

As declarações de Amorim acontecem em um momento em que o governo brasileiro parece considerar inevitável o tarifaço. Até o momento, não há o menor sinal de que esse movimento poderá ser revertido ou adiado.

As tentativas do governo brasileiro de negociar com os EUA, encabeçadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, têm se mostrado infrutíferas. O próprio presidente Lula parece não ter muita esperança de uma reversão da cobrança até o dia 1º. O presidente Trump também reafirmou, durante sua viagem à Europa, que a data de 1º de agosto não será adiada.

Os efeitos ainda não estão muito claros, mas alguns cálculos mostram que haverá perdas relevantes. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) estimou, para o curto prazo, uma queda de R$ 52 bilhões nas exportações brasileiras e diminuição de 110 mil empregos no país.

Já a Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais) fala de uma perda, no longo prazo, de R$ 175 bilhões para a economia brasileira, com retração de 1,49% do PIB e com 1,3 milhão a menos de postos de trabalhos.

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