Medida está prevista para 1º de agosto e ocorre em meio à pressão dos EUA por mudanças políticas no Brasil; governo Lula aposta em negociação direta e apoio de empresários americanos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (23) que as novas tarifas comerciais dos EUA terão alíquota mínima de 15% e poderão chegar a 50%, indicando que poderá confirmar a aplicação da taxa máxima ao Brasil, o único país sujeito a essa alíquota entre os que receberam cartas da Casa Branca nas últimas semanas. A medida está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.
“Vamos ter uma tarifa simples e direta de algo entre 15% e 50%”, disse Trump, durante cúpula sobre inteligência artificial em Washington, indicando também que o piso das tarifas pode subir dos atuais 10%.
Segundo Trump, os países que serão afetados pela alíquota maior são aqueles com os quais os EUA não têm “se dado muito bem”. “Temos 50% porque não temos nos dado muito bem com esses países”, falou.
O Brasil, segundo a Casa Branca, foi incluído na lista de alvos após críticas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e a supostas práticas desleais de comércio. Mais tarde, o governo americano abriu uma investigação que incluiu o Pix e a Rua 25 de Março.
A fala ocorre enquanto o governo Lula intensifica esforços para evitar prejuízos à economia brasileira. O Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda avaliam medidas emergenciais, como a criação de um fundo temporário com crédito a empresas afetadas pelas tarifas. A linha seria financiada via crédito extraordinário e voltada a setores como o siderúrgico, que dependem das exportações aos EUA. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o plano já foi finalizado.
Em paralelo, o vice-presidente Geraldo Alckmin propôs o envio de uma comitiva interministerial a Washington para buscar um adiamento de até 90 dias da tarifa e iniciar negociações comerciais. O objetivo é apresentar contrapartidas aos EUA, como a remoção de barreiras a produtos americanos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também defende o adiamento, temendo impactos imediatos. Em paralelo, Lula busca estreitar laços com o México.
Outra estratégia do governo é sensibilizar o consumidor americano. Empresários e representantes do agronegócio foram orientados a mostrar aos compradores nos EUA os efeitos das tarifas sobre preços de itens do cotidiano, como carne, suco de laranja e café. Uma distribuidora de suco nos EUA já acionou a Justiça contra a tarifa, alegando aumento de custos e risco de demissões.
Negociadores, no entanto, enfrentam uma barreira: Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, falou nas redes sociais que irá usar sua influência na Casa Branca para impedir que o governo americano receba comitivas vindas do Brasil. É uma forma de pressionar pela anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, e investigados como seu pai.
No plano internacional, o Brasil reagiu com firmeza na Organização Mundial do Comércio (OMC). Sem citar os EUA, o embaixador brasileiro Philip Gough criticou o uso de tarifas para interferência política, classificando a medida como um “ataque sem precedentes ao sistema multilateral de comércio”, e que as tarifas são “um atalho perigoso para a instabilidade e a guerra.
Fonte: InfoMoney